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A HISTÓRIA DA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA - PARTE 1

Antes de entrarmos na história da Escola Paulista de Medicina, é conveniente que façamos uma reflexão a respeito da importância desse tipo de estudo hoje em dia. Como disse o historiador Marc Bloch: “A História é o passado explicando e presente e o presente explicando o passado”.

Atualmente, depois da crise do fim do Período Pós-moderno (crise ainda atual), vive-se uma crise de identidade das instituições em escala mundial. Incluem-se nisso as instituições universitárias. Para situarmos esta fala, lembremos brevemente da periodização histórica (que não é um compartimento estanque único, podendo ter variáveis). O uso do termo “moderno” na periodização histórica é mais comumente usado para se referir: à Era Moderna (ou Época Moderna), situada entre o fim do século XV e a Revolução Francesa; ao Período Moderno, que vai da transição do século XVIII para o XIX até aproximadamente 1950; o Período Pós-moderno que vai desse momento até a primeira década do século XXI. Portanto, atualmente vive-se um momento de transição para alguma forma de “Pós-pós-moderno”, que ainda não se sabe exatamente com vai se configurar. De certa forma, parece que a eficiência e o pragmatismo do Pós-moderno não são mais vigentes. Sem querer entrar em detalhes nesses aspectos, interessa-nos ressaltar o elemento de “busca da identidade” das instituições que vem junto com esses outros fatores.

Dentro desse debate, para situarmos a fundação da Escola Paulista de Medicina, é interessante abordarmos o contexto histórico em São Paulo, no Brasil e no mundo no ano de 1933.

Esse ano está dentro do Período Moderno, que vai aproximadamente de 1800 a 1950, o qual, entre outros fatores, se caracterizou por: Revolução Industrial; grande urbanização; profissionalização da Ciência; Universidade Moderna ligada ao Estado-Nação.

Ao mesmo tempo, o ano de 1933 correspondia ao período entre as duas grandes guerras, com a assim chamada “geração perdida”, a Grande Depressão, a ascensão dos totalitarismos, sendo que, nesse mesmo ano, o Nazismo chegou ao poder. Eventualmente alguém poderia perguntar sobre o que teríamos nós aqui no Brasil com esses acontecimentos (além do lado econômico). Podemos responder que médicos atentos aos acontecimentos internacionais já escreveram, em 1933, contra as ideias nazistas, inclusive advertindo contra sua presença entre nós. Ao mesmo tempo, nesse ano, ocorreu a morte de dois médicos humanistas brasileiros importantes, os psiquiatras Franco da Rocha e Juliano Moreira.

Em um contexto mais nacional propriamente dito, deu-se em 1930 a assim chamada “Revolução de 1930” com Getúlio Vargas, sendo questionado por alguns autores o termo “revolução”, e que talvez tivesse sido algo mais próximo de um “golpe de Estado”. Em 1932, por razões diversas, ocorreu aquilo que passou a ser chamado de “Guerra Paulista” (contra o governo de Getúlio), ou de “Revolução Constitucionalista”, que foi o maior conflito armado do século XX no Brasil. Embora tendo perdido a Guerra nas armas, os paulistas reagiram com uma vitória moral que ocorreu de vários modos, entre os quais se inclui o campo do Conhecimento e da Ciência. Assim, em 1933 foram fundadas a Escola Paulista de Medicina e a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e, em 1934, foi fundada a Universidade de São Paulo.

Prof. Dr. Afonso Carlos Neves
AMEPM-SP